Relógio

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A Obra de Machado de Assis

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Machado de Assis, foto de 1890

Memórias póstumas de Brás Cubas é um romance do escritor brasileiro Machado de Assis, considerado divisor de águas em sua carreira. O livro costuma ser associado à introdução do Realismo no Brasil. É narrado em primeira pessoa pelo personagem Brás Cubas, que em tom irônico e sarcástico, descreve sua biografia e suas obras.

Visão geral

Uma das mais populares obras do autor, o romance Memórias Póstumas de Bras Cubas foi publicado originalmente como um folhetim, em 1880, em capítulos, como na Revista Brasileira. Em 1881, saiu em livro causando espanto à crítica da época, que se perguntava se o livro tratava-se de fato de um romance: a obra era extremamente ousada do ponto de vista formal, surpreendendo o público até então acostumado à tradicional fórmula romântica. É narrada pelo defunto Brás Cubas, que escreve a própria biografia a partir do túmulo (sendo, portanto, segundo o próprio, não um autor-defunto, mas o primeiro defunto-autor da história, que é caracterizado por ter morrido e depois escrito, diferente do outro que foi escritor depois morreu). Começa suas memórias com uma dedicatória que antecipa o humor negro e a ironia presente em todo o livro: Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas Memórias Póstumas. Brás Cubas também expressa o humor negro quando diz que a obra foi escrita com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, no "Ao leitor".

Foi a obra brasileira que melhor ilustrou a tendência do "leitor incluso", um contraponto dialógico com o leitor, não apenas como um vocatico, mas dando ao leitor vida própria e contornos no interior do texto. O leitor é visto com possuidor de posicionamento crítico, gestos e temperamento. Estes trechos que incluem o leitor têm sempre uma natureza baseada numa reflexão, uma metalinguagem da estrutura e corrente ideológica do texto.

Cinema

O livro teve três versões cinematográficas: a primeira, rodada em tom completamente experimental, em 1967, chamava-se Viagem ao Fim do Mundo, sendo dirigido por Fernando Cony Campos. A segunda, de 1985, também com um caráter estético mais ousado, foi filmada por Julio Bressane, com Luiz Fernando Guimarães no papel de Brás Cubas. E em 2001, foi rodada uma nova produção, Memórias Póstumas, desta vez mais fiel à obra, dirigida por André Klotzel, com Reginaldo Faria atuando como Brás Cubas após os 60 anos até ser defunto e Petrônio Gontijo sendo Brás Cubas na sua juventude.

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O Realismo em Portugal

realismo[1]

O Realismo na Literatura surge em Portugal após 1865, devido à Questão Coimbrã e às Conferências do Casino, como resposta à artificialidade, formalidade e aos exageros do Romantismo de uma sentimentalidade mórbida. Eça de Queirós é apontado, junto a Antero de Quental, como o autor que introduz este movimento no país, sendo o romance social, psicológico e de tese a principal forma de expressão. Deixa de ser apenas distracção e torna-se meio de crítica a instituições, à hipocrisia burguesa (avareza, inveja, usura), à vida urbana (tensões sociais, económicas, políticas) à religião e à sociedade, interessando-se pela análise social, pela representação da realidade circundante, do sofrimento, da corrupção e do vício. A escravatura, o racismo e a sexualidade são retratados com uma linguagem clara e directa.

A Génese do Realismo em Portugal

O primeiro aparecimento do Realismo em Portugal deu-se na Questão Coimbrã. Polémica esta que significou, nas palavras de Teófilo Braga “a dissolução do Romantismo”, nela se manifestaram pela primeira vez as novas ideias e o novo gosto de uma geração que reagia contra o marasmo em que tinha caído o Romantismo.

O segundo episódio do aparecimento do Realismo verificou-se em 1871 nas Conferências do Casino (ou Conferências Democráticas do Casino). Nesta nova manifestação da chamada Geração de 70 os contornos do que seria o Realismo apareceram desenhados com maior nitidez. Especialmente através da conferência realizada por Eça de Queirós intitulada O realismo como nova expressão da arte. Sob a influência do Cenáculo, e da sua figura central Antero de Quental, Eça funde as teorias de Taine, do determinismo social e da hereditariedade com as posições estético-sociais de Proudhon. Atacando o estado das letras nacionais e propondo uma nova arte, uma arte revolucionária, que respondesse ao "espírito dos tempos" (zeitgeist), uma arte que agisse como regeneradora da consciência social, que pintasse o real sem floreados. Para Eça só uma arte que mostrasse efectivamente como era a Realidade, mesmo que isso implicasse entrar em campos sórdidos, poderia fazer um diagnóstico do meio social, com vista à sua cura. Assim reagia contra o espírito da arte pela arte, visando mostrar os problemas morais e assim contribuir para aperfeiçoar a Humanidade. Com este cientismo Eça de Queirós já situava o Realismo na sua posição extrema de Naturalismo.

Reacções: Pinheiro Chagas atacou Eça. Luciano Cordeiro argumentou que ele próprio já tinha defendido posições parecidas

A implantação efectiva do Realismo dá-se com a publicação do O Crime do Padre Amaro, seguida dois anos mais tarde pelo Primo Basílio, obras ambas de Eça, que são caracterizadas por métodos de narração e descrição baseados numa minuciosa observação e análise dos tipos sociais, físicos e psicológicos, aparecendo os factores como o meio, a educação e a hereditariedade a determinarem o carácter moral das personagens. São romances que têm afinidade com os de Émile Zola, com o intuito de crítica de costumes e de reforma social.

O primeiro destes romances foi acolhido pelos críticos de então com um silêncio generalizado. O segundo provocou escândalo aberto. E a polémica e a oposição entre Realismo e Romantismo estala definitivamente. Pinheiro Chagas ataca Eça considerando-o antipatriota, pelo modo como apresenta a sociedade portuguesa. Chegaram a aparecer panfletos acusando os realistas de desmoralização das famílias (Carlos Alberto Freire de Andrade: A escola realista, opúsculo oferecido às mães).

Camilo Castelo Branco vai parodiar o Realismo com Eusébio Macário(1879) e voltando a parodiar com A Corja (1880). Mas curiosamente, mesmo através da paródia, Camilo vai absorver a nova escola, como é nítido na novela A Brasileira de Prazins. (1882).

Entretanto o paladino do Realismo, Eça, vai desorientar os seus seguidores ortodoxos com a publicação de O Mandarim. O que faz com que Silva Pinto (1848-1911) que tinha exposto a teoria da escola realista e elogiado Eça num panfleto intitulado Do Realismo na Arte, vai agora atacar Eça em Realismos, ridicularizando o novo estilo deste. Reis Dâmaso, na Revista de Estudos Livres vai-se insurgir contra a publicação de O Mandarim acusando Eça de ter atraiçoado o movimento. Estas acusações não eram infundadas porque de facto Eça já estava a descolar de um realismo ortodoxo para o seu estilo mais pessoal onde o seu humor e a sua fantasia se aliam num estilo único.

Desde a implantação do Realismo com a conferência de Eça que o movimento logrou um núcleo de apoiantes que se desmultiplicaram em explicar e defender o seu credo estético. esse núcleo resvalou, regra geral, para uma posição mais extremadamente Realista, o Naturalismo, tornando-se ortodoxos e dogmáticos. Os defensores desta posição são José António dos Reis Dâmaso (1850-1895) e Júlio Lourenço Pinto (1842-1907) autor da Estética naturalista, que pretendia ser um evangelho do naturalismo. No entanto estes dois autores são fracos do ponto de vista literário e totalmente esquecidos hoje em dia.

Aqueles que não enveredaram por posições tão rígidas estão menos esquecidos como Luís de Magalhães que nos deixou O Brasileiro Soares (1886) que foi prefaciado por Eça. Outros nomes são Trindade Coelho, Fialho de Almeida e Teixeira de Queiroz.

Por volta de 1890 o Realismo/Naturalismo tinha perdido o seu ímpeto em Portugal. Em 1893 o próprio Eça o declarava morto nas Notas Contemporâneas: “o homem experimental, de observação positiva, todo estabelecido sobre documentos, findou (se é que jamais existiu, a não ser em teoria)

Balanço do Realismo em Portugal

Embora por vezes doutrinariamente fraco e/ou confuso o Realismo em Portugal apresenta-se por isso mesmo, mais do que um movimento consistente, como uma tendência estética, um sentir novo, que se opôs ao Idealismo e ao Romantismo. A sua consequência mais importante foi a introdução em Portugal às influências estrangeiras nos vários domínios do saber. Alargando as escolhas literárias e renovando um meio literário que estava muito fechado sobre si mesmo.

Questão Coimbrã

eca-de-queiroz-12[1]Questão Coimbrã foi o primei ro sinal de renovação ideológica do século XIX entre os defensores do statu quo, desactualizados em relação à cultura europeia, e um grupo de jovens escritores estudantes em Coimbra, que tinham assimilado as ideias novas.

Castilho tornara-se um padrinho oficial dos escritores mais novos, tais como Ernesto Biester, Tomás Ribeiro ou Manuel Joaquim Pinheiro Chagas. Dispunha de influência e relações que lhe permitiam facilitar a vida literária a muitos estreantes, serviço que estes lhe pagavam em elogios.

Em redor de Castilho formou-se assim um grupo em que o academismo e o formalismo vazio das produções literárias correspondia à hipocrisia das relações humanas, e em que todo o realismo desaparecia, grupo que Antero de Quental chamaria de «escola de elogio mútuo». Em 1865, solicitado a apadrinhar com um posfácio o Poema da Mocidade de Pinheiro Chagas, Castilho aproveitou a ocasião para, sob a forma de uma Carta ao Editor António Maria Pereira, censurar um grupo de jovens de Coimbra, que acusava de exibicionismo, de obscuridade propositada e de tratarem temas que nada tinham a ver com a poesia, acusava-os de ter também falta de bom senso e de bom gosto. Os escritores mencionados eram Teófilo Braga, autor dos poemas Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras; Antero de Quental, que então publicara as Odes Modernas, e um escritor em prosa, Vieira de Castro, o único que Castilho distinguia.

Antero de Quental respondeu com uma Carta com o titulo "Bom senso e bom gosto" a Castilho, que saiu em folheto. Nela defendia a independência dos jovens escritores; apontava a gravidade da missão dos poetas da época de grandes transformações em curso e a necessidade de eles serem os arautos dos grandes problemas ideológicos da actualidade, e metia a ridículo a futilidade e insignificância da poesia de Castilho.

Ao mesmo tempo, Teófilo Braga solidarizava-se com Antero no folheto Teocracias Literárias, no qual afirmava que Castilho devia a celebridade à circunstância de ser cego. Pouco depois Antero desenvolvia as ideias já expostas na Carta a Castilho no folheto A Dignidade das Letras e Literaturas Oficiais, evidenciando a necessidade de criar uma literatura que estivesse à altura de tratar os temas mais importantes da actualidade. Seguiram-se intervenções de uma parte e de outra, em que o problema levantado por Antero ficou esquecido. Provocou grande celeuma o tom irreverente com que Antero se dirigiu aos cabelos brancos do velho escritor, e a referência de Teófilo à cegueira dele.

Foi isto o que mais impressionou Ramalho Ortigão, que num opúsculo intitulado A Literatura de Hoje, 1866, censurava aos rapazes as suas inconveniências, ao mesmo tempo que afirmava não saber o que realmente estava em discussão. Este opúsculo deu lugar a um duelo do autor com Antero. Mas outro escrito, este de Camilo Castelo Branco, favorável a Castilho — Vaidades Irritadas e Irritantes — não suscitou reacções. Na realidade nada foi acrescentado aos dois folhetos de Antero durante os longos meses que a polémica durou ainda. Eça de Queiroz, em O crime do padre Amaro, de forma implícita, toma parte dos jovens literários.

Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense

antero08[1] Série de conferências - também conhecidas simplesmente por Conferências do Casino - levadas a público em 1871, em Lisboa, por iniciativa do chamado grupo do Cenáculo, de que faziam parte Antero de Quental, Eça de Queirós, Jaime Batalha Reis, Salomão Sáragga, Manuel Arriaga e Guerra Junqueiro. Este é o ponto mais alto da Geração de 70. Visavam abrir um debate sobre o que de mais moderno, a nível de pensamento, se vinha fazendo lá fora. Aproximar Portugal da Europa era o objectivo máximo, anunciado, aliás, no respectivo programa.


O programa das Conferências, que surgiam como uma espécie de consequência natural das discussões ideológicas travadas no Cenáculo, anunciava "ligar Portugal com o movimento moderno", "agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência Moderna" e "estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa".


A conferência inaugural, intitulada "O espírito das conferências", foi proferida por Antero de Quental, que afirmou a necessidade de regenerar Portugal "pela educação da inteligência e pelo fortalecimento da consciência dos indivíduos". Na segunda conferência, o mesmo Antero analisou as "Causas da decadência dos povos peninsulares", que, na sua opinião, correspondiam ao catolicismo pós-tridentino, que impôs o obscurantismo à centralização política das monarquias absolutas, que determinou o aniquilamento das liberdades locais e individuais, e à política expansionista ultramarina, que impediu o desenvolvimento da pequena burguesia. A terceira conferência, intitulada "A literatura portuguesa", foi pronunciada por Augusto Soromenho, que denunciou a decadência da literatura portuguesa e defendeu a necessidade de "dar por base à educação a moral, o dever, do que aproveitará a literatura". A quarta conferência, "A Nova Literatura (O Realismo como nova expressão da Arte)", foi proferida por Eça de Queirós, que aí lançou os fundamentos da sua concepção de Realismo, influenciada por Flaubert, Proudhon e Taine. A quinta conferência coube a Adolfo Coelho, que avançou algumas propostas revolucionárias para a reorganização do ensino em Portugal, a mais importante das quais consistia na "separação completa do estado e da igreja".


As conferências foram interrompidas antes da sexta, que seria dita por Salomão Sáragga e que versaria sobre os críticos históricos de Jesus, por portaria ministerial do Marquês de Ávila e Bolama, onde se alegava que nas conferências se tinham sustentado "doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do estado". Os conferencistas reagiram contra a proibição com um protesto público, com o qual se solidarizaram vários intelectuais, como Alexandre Herculano, que acudiram em defesa da liberdade de expressão.


De qualquer modo, entre os intelectuais portugueses, ficou o gérmen da modernidade do pensamento político, social, pedagógico e científico que na França, na Alemanha e na Inglaterra se fazia sentir. Este espírito revolucionário e positivista dominava a maioria da jovem classe pensante.

Antero de Quental (1842 - 1891)

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Antero Tarqüínio de Quental nasceu a 18 de abril de 1842 em Ponta Delgada, no Açores.
Com dez anos foi para Lisboa completar o seus estudos. Aos 16 anos ingressou na Faculdade de Direito de Coimbra, onde tomou contato com as principais as idéias vigentes em toda a Europa e acabou se afastando dos valores conservadores e católicos herdados na infância.
Em 1864 publicou "Odes Modernas", obra que, junto com Visão dos Tempos" e "Tempestades Sonoras" de Teófilo Braga, é responsável por provocar a polêmica "Questão Coimbrã".
Em 1865 foi para Paris com intenção de por em prática as suas teorias socialistas.
Em 1871, após ver frustada essa tentativa, retorna a Portugal e passa a ser um dos líderes das Conferências Democráticas, que determinam o fim da "Questão Coimbrã", com a vitória dos jovens Realistas sobre os velhos Românticos.

A partir daí Antero de Quental dedica-se quase que exclusivamente à defesa dos ideais socialistas. Isso só muda 1873 quando seu pai falece e ele se vê forçado a retornar a Punta Delgada para assumir os negócios da família. Para aumentar ainda mais seus sofrimentos vê a violenta repressão às lutas operárias deitado de costas em uma cama, pois é atacado por uma estranha doença que o faz passar a maior parte nessa posição. Tudo isso vai, pouco a pouco, deixando-o muito deprimido e ele acaba se suicidando em 11 de setembro de 1891 com um tiro de revólver .


A produção poética de Antero de Quental está intimamente ligada a sua vida. Isso pode ser percebido claramente no livro "Sonetos", organizado pelo crítico literário Antônio Sérgio em oito partes. Na primeira delas, "da expressão lírica do amor-paixão", vemos um poeta lírico que segue as regras da escola Romântica; na segunda parte, "do apostolado social", vemos uma poesia revolucionária, voltada para o momento histórico da época e com uma nítida preocupação social; as outras seis partes ("do pensamento pessimista", "do desejo de evasão", "da morte", "do pensamento em Deus", "da metafísica" e "da voz interior e do amor puro, sempiterno") referem-se ao período em que ele retorna para Punta Delgada é atacado pela estranha doença. Nas quatro últimas partes há ainda o predomínio dos temas metafísicos.


Devido a perfeição técnica dos seus sonetos, Antero de Quental é considerado um dos melhores sonetistas portugueses, dividindo esse título apenas com Bocage e Camões.

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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Realismo e Naturalismo

    Capitalismo e Pobreza:

    Um Novo Cenário Social

    A revolução industrial está diretamente relacionada ao nascimento da estética realista. Inicialmente restrita á Inglaterra, ela desencadeou mudanças profundas no modo de produção, o que reordenou a economia mundial no século XIX.

    A superação do mercantilismo pela dinâmica capitalista __ Consequência da revolução Industrial __ Fez com que a consolidação do poder burguês desse á sociedade uma nova faceta, que o realismo, como estética literária, busca analisar, detectando suas causas e denunciando suas consequências.

REVOLU~1

REVOLUÇÃOS INDUSTRIAL

A multiplicação das máquinas e o crescimento do comércio contribuíram para a adoção de uma perspectiva extremamente otimista que associava a Revolução insdustrial à possibilidades de importantes reformas sociais.

A industrialização, porém, acarretou um efeito social bastante previsível: acentuou a distinção entre a classe média (burguesia) e a classe trabalhadora (proletariado). As pessoas engajadas no comércio e uqe participavam ativamente do sistema capitalista foram beneficiadas pelos novos meios de produção. Os trabalhadores, agora assalariados, encontravam-se no outro lado do aspecto social.

A pobreza tornou-se, desse modo, um problema associado à industrialização, porque o novo sistema de produção fez crescer assustadoramente os sacrificios a que eram submetidos os trabalhadores. O acúmulo de pessoas nos grandes centros urbanos agravou os problemas já existentes.

Sem emprego suficiente, os camponeses, expulsos do campo pelas máquinas, vagavam pelos principais centros urbanos sem as mínimas condições de vida. As epidemias aumentaram como consequência natural da falta de condições básicas de higiene. A mendicância e a prostituição tornam-se subprodutos indesejáveis e degradantes da sociedade capitalista.

A Sociedade no centro da obra literária

O mundo das máquinas, das fábricas, dos transportes, das novas teorias sociais, tornava inviável a visão de mundo romântica, que fazia do indivíduo e de seus dramas sentimentais o centro de todas as coisas.

  • A sociedade estava mudando, os artistas, como homens de seu tempo, passaram a adotar a nova visão do mundo que privilejiava a objetividade, contrária ao subjetivismo romântico; que via na razão a melhor forma de percepção da realidade, abandonando a desvalorização desmedida da emoção; que focalizava a sociedade como centro de seus interesses, em lugar de uma perspctiva excessivamente individualista.

Madame Bovary e a Crítica ao Romantismo

O primeiro romance realista, Madame Bovary, foi publicado na França, em 1857, e seu autor, Gustave Flaubert, chegou a ser processado, acusado de imoralidade, pela publicação dessa obra. Embora Flaubert tenha sido absolvido da acusação, demorou muito para que o público leitor aceitasse a nova perspectiva literária presente em textos realistas.

No romance, conhecemos a história de Emma Bovary, mulher educada tendo como prncípios básicos os ideais burgueses românticos. Enfadada com o próprio casamento, Emma torna-se vítima fácil para o primeiro conquistador que lhe cruza o caminho. Seu destino é a morte.

Essa é uma morte simbólica, porque, com ela, Flaubert parece indicar a morte do próprio Romantismo, ao mesmo tempo que critica, de modo impiedoso, a hipocrisia da sociedade burguesa. Em sua obra, toda a intriga melodramática, aventurosa e sensacional é substituída pelas descrições de uma vida cotidiana absolutamente monótona, uniforme e, não raro, vulgar.

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As fábricas começam a transformar o cenário europeu. Onde antes havia campos e árvores, agora há chaminés e fumaça (campo escuro, de Constantin Meunier, C. 1890).

Nos trechos Transcritos a seguir conhecemos um pouco melhor como a mentalidade romântica determinou as expectativas de Emma Bovary e, de certa forma, condenou-a à infelicidade e à morte.

"Antes de casar, ela julgara ter amor; mas como a feliciadade que deveria ter resultado daquele amor não viera, ela deveria ter-se enganado, pensava. E Emma procurava saber o que se entendia exatamente, na vida, pelas palavras felicidade, paixão, embriaguez, que lhe haviam parecido tão belas nos livros.

Ela lera Paul Et Virginie e sonhara com a casinha de bambu, com o negro Domingo, o cão fiel, mas, sobretudo, com a amizadade doce de algum bom irmãozinho que vai procurar frutos vermelhos nas grandes árvores mais altas do que campanários ou que corre descalço na areia trazendo um ninho de pássaros.

Quando fez treze anos, seu pai levou-a pessoalmente à cidade, para interná-la no convento. [...]

Havia no convento uma solteirona que vinha oito dias por mês para trabalhar na rouparia. [...] Ela sabia de cor canções galantes do século passado, que cantava a meia vozenquanto manejava a agulha. Contava histórias, trazia novidades, fazia compras na cidade e emprestava às alunas maiores, às escondidas, algum romance que trazia sempre nos bolsos do avental e do qual a boa senhorita devorava, ela mesma, longos capítulos nos intervalos do seu trabalho. Eram somente amores, amantes, senhoras perseguidas que desmaiavam em pavilhões solitários, postilhões assassinados em todas as pousadas, cavalos que eram mortos em todas as páginas, florestas sombrias, tumultos do coração, promesas, soluços, lágrimas e beijos, barcos ao luar, rouxinóis nos arvoredos, cavalheiros corajosos como leões, doces como cordeiros, virtuosos como ninguém pode ser, sempre bem vistidos e que choram como urnas. Durante seis neses, aos quinze anos, Emma megulhou, pois, as mãos naquele pó dos velhos gabinetes de leitura. Com Walter Scott, mais tarde, apaixonou-se por coisas históricas, sonhou com arcas, salas da guarda, e menestréis. Teria desejado viver com algum velho solar como aquelas castelãs de longos corpetes que, sob o trifólio das ogivas, passavam seus dias com o cotovelo apoiado na pedra e o queixo na mão a olhar um cavalheiro de pluma branca, vindo do fundo dos campos galopando um cavalo negro. [...]

Nas aulas de música, nas romanças que cantava, havia apenas anjinhos de assas de ouro, madonas, lagunas, gondoleiros, pacíficas composições que lhe deixavam entrever, através da tolice do estilo e das imprudências das notas agudas, a atraente fantasmagoria das realidades sentimentais. [...]

E o abajur do candeeiro, dependurado no muro acima da cabeça de Emma, iluminava todas as cenas do mundo que passavam diante dela, umas após as outras, no silêncio do dormitório e ao barulho longínquo de algum fiacre atrasado que ainda rodava nos bulevares."

FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Tradução de Fúlvia M. L. Moretto.

São Paulo: Nova Alexandria, 1993

Mais adiante, quando conhecermos uma das mais famosas personagens de Eça de Queirós __ Luísa, do romance O Primo Basílio, reconheceremos a influência evidente que a leitura de Madame Bovary exerceu sobre o escritor português.

Na perspectiva realista, o efeito moral da arte é o seu objetivo mais importante, o que dá ao artista um papel educativo insubstituível. "Arte, a única coisa verdadeira e boa vida", escreve Flaubert em sua juventude. No fim da vida, passa a acreditar que "o homem não é nada, a obra é tudo".

Depois da publicação de Madame Bovary, o cenário literário europeu foi definitivamente marcado pela estética realista.

Um novo olhar para o mundo

Como manifestação artística de uma sociedade em transformação, o Realismo tem características que refletem de modo inconfundível o momento em que surge.

As descobertas científicas levavam a uma valorização da experiência concreta, racional, controlada, de modo que a fantasia e o imaginário, que tanto caracterizaram o Romantismo, São deixados de lado. De forma semelhante aos românticos, porém, os realistas continuarão a expressar insatisfação com a sociedade em que vivem e a criticar severamente a ganância e a hipocrisia burguesa.

O Realismo procura representar o mundo exterior de modo fidedigno, voltado para a análise das condições políticas, econômicas e sociais que influenciam os comportamentos individuais e determinam a organização social.

O autor realista está interessado na sociedade, vista de modo objetivo, sem excluir as classes menos favorecidas e os fatos cotidianos.

A estética realista está associada às seguintes características:

  • Captação e análise da realidade, com precisão objetiva.
  • Retrato fiel da natureza.
  • Análise corajosa, porque exata, da vida, do mundo e dos seus vícios.
  • Temas cosmopolitas de incidência coletiva: educação, adultério, opressão, agiotagem, corrupção, frivolidade, política.
  • Narração e descrição articuladas, de modo que a ação representada se intercale com a caracterização de espaços sociais.
  • Interesse no estudo das motivações psicológicas para o comportamento das personagens.
  • Personagens construídas de modo coerente com o mundo profissional, cultural, econômico, social e político em que se inserem.
  • Presença de personagens-tipo, que permitem a reflexão crítica sobre o ser humano e seus problemas.

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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Romantismo no Brasil (As três Gerações)

De acordo com o tema principal, os romances românticos no Brasil podem ser classificados como indianistas, urbanos ou regionalistas.

"A Revolução Belga", de Wappers.

No romance indianista, o índio era o foco da literatura, pois era considerado uma autêntica expressão da nacionalidade, e era altamente idealizado. Como um símbolo da pureza e da inocência, representava o homem não corrompido pela sociedade, o não capitalista, além de assemelhar-se aos heróis medievais, fortes e éticos. Junto com tudo isso, o indianismo expressava os costumes e a linguagem indígenas, cujo retrato fez de certos romances excelentes documentos históricos.


Os romances urbanos tratam da vida na capital e relatam as particularidades da vida cotidiana da burguesia, cujos membros se identificavam com os personagens. Os romances faziam sempre uma crítica à sociedade através de situações corriqueiras, como o casamento por interesse ou a ascensão social a qualquer preço.


Por fim, o romance regionalista propunha uma construção de texto que valorizasse as diferenças étnicas, lingüísticas, sociais e culturais que afastavam o povo brasileiro da Europa, e caracterizava-os como uma nação. Os romances regionalistas criavam um vasto panorama do Brasil, representando a forma de vida e individualidade da população de cada parte do país. A preferência dos autores era por regiões afastadas de centros urbanos, pois estes estavam sempre em contato com a Europa, além de o espaço físico afetar suas condições de vida.


A primeira geração (nacionalista–indianista) era voltada para a natureza, o regresso ao passado histórico e ao medievalismo. Cria um herói nacional na figura do índio, de onde surgiu a denominação de geração indianista. O sentimentalismo e a religiosidade são outras características presentes. Entre os principais autores podemos destacar Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto Alegre. Gonçalves de Magalhães foi o introdutor do Romantismo no Brasil. Obras: Suspiros Poéticos e Saudades. Gonçalves Dias foi o mais significativo poeta romântico brasileiro. Obras: Canção do exílio, I-Juca-Pirama. Araújo Porto Alegre fundou com os outros dois a Revista Niterói-Brasiliense


Entre as principais características da primeira geração romântica no Brasil estão: o nacionalismo ufanista, o indianismo, o subjetivismo, a religiosidade, o brasileirismo (linguagem), a evasão do tempo e espaço, o egocentrismo, o individualismo, o sofrimento amoroso, a exaltação da liberdade, a expressão de estados de alma, emoções e sentimentalismo.


A segunda geração, também conhecida como Byroniana e Ultra-Romantismo, recebeu a denominação de mal do século pela sua característica de abordar temas obscuros como a morte, amores impossíveis e a escuridão.


Entre seus principais autores estão Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. Álvares de Azevedo fazia parte da sociedade epicuréia destinada a repetir no Brasil a existência boêmia de Byron. Obras: Pálida à Luz, Soneto, Lembranças de Morrer, Noite na Taverna. Casimiro de Abreu escreveu As Primaveras, Poesia e amor, etc. Fagundes Varela, embora byroniano, já tinha em sua poesia algumas características da terceira geração do romantismo. Junqueira Freire, com estilo dividido entre a homossexualidade e a heterossexualidade, demonstrava as idiossincrasias da religião católica do século XIX.


Já as principais características da segunda geração foram o profundo subjetivismo, o egocentrismo, o individualismo, a evasão na morte, o saudosismo (lamentação) em Casimiro de Abreu, por exemplo, o pessimismo, o sentimento de angústia, o sofrimento amoroso, o desespero, o satanismo e a fuga da realidade.


Por fim há a terceira geração, conhecida também como geração Condoreira, simbolizada pelo Condor, uma ave que costuma construir seu ninho em lugares muito altos e tem visão ampla sobre todas as coisas, ou Hugoniana, referente ao escritor francês Victor Hugo, grande pensador do social e influenciador dessa geração.


Os destaques desta geração foram Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto. Castro Alves, denominado "Poeta dos Escravos", o mais expressivo representante dessa geração com obras como Espumas Flutuantes e Navio Negreiro. Sousândrade não foi um poeta muito influente, mas tem uma pequena importância pelo descritivismo de suas obras. Tobias Barreto é famoso pelos seus poemas românticos.


As principais características são o erotismo, a mulher vista com virtudes e pecados, o abolicionismo, a visão ampla e conhecimento sobre todas as coisas, a realidade social e a negação do amor platônico, com a mulher podendo ser tocada e amada.


Essas três gerações citadas acima, apenas se aplicam para a poesia romântica, pois a prosa no Brasil, não foi marcada por gerações, e sim por estilos de textos - indianista, urbano ou regional - que aconteceram todos simultaneamente.


No país, entretanto, o romantismo perdurará até à década de 1880. Com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, por Machado de Assis, em 1881, ocorre formalmente a passagem para o período realista.



Principais escritores românticos brasileiros


  • Gonçalves Dias: principal poeta romântico e uns dos melhores da língua portuguesa, nacionalista, autor da famosa Canção do Exílio, da nem tão famosa mas muito melhor I-Juca-Pirama e de muitos outros poemas.

  • Álvares de Azevedo: o maior romântico da Segunda Geração Romântica; autor de A Lira dos Vinte Anos, Noite na Taverna e Macário.

  • Castro Alves:grande representante da Geração Condoeira, escreveu, principalmente, poesias abolicionistas como o Navio Negreiro.

  • Joaquim Manuel de Macedo, romancista urbano escreveu A Moreninha e também O Moço Loiro.

  • José de Alencar, principal romancista romântico. Romances urbanos: Lucíola; A Viuvinha; Cinco Minutos; Senhora. Romances regionalistas: O Gaúcho, O Sertanejo, O Tronco do Ipê. Romances históricos: A Guerra dos Mascates; As Minas de Prata. Romances indianistas: O Guarani, Iracema e o Ubirajara.

  • Manuel Antônio de Almeida: romancista urbano, precursor do Realismo. Obras: Memórias de um Sargento de Milícias.

  • Bernardo Guimarães: considerado fundador do regionalismo. Obras: A Escrava Isaura; "O Seminarista"

  • Franklin Távora: regionalista. Obra mais importante: O Cabeleira.

  • Visconde de Taunay: regionalista. Obra mais importante: Inocência.


Demais artes

Apesar da produção literária ser predominantemente romântica, vive-se no país neste período um grande incentivo ao academicismo e ao neoclassicismo. O neoclássico é o estilo oficial do Império recém-proclamado e o grande centro das artes no país é a Escola Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, lar do neoclassicismo no Brasil, sob influência direta da Missão francesa trazida pelo Príncipe-Regente D. João VI. Principais características: subjetivismo, evasão, erotismo, senso de mistério e religiosidade.

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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Alguns Poemas de Almeida Garrett

 

180px-Almeida_Garrett_por_GuglielmiAlmeida Garrett por Pedro Augusto Guglielmi (Biblioteca Nacional de Portugal).

  • Este inferno de amar

Este inferno de amar — como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida — e que a vida destrói —
Como é que se veio a atear,
Quando — ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra; o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… — foi um sonho —
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

         GARRETT, Almeida. In: TORRES, Alexandre

                                 Pinheiro (Org). Antologia da

            poesia portuguesa (Séc. XII - Séc. XX).

  •     Gozo e dor

Se estou contente, querida,
Com esta imensa ternura
De que me enche o teu amor?
– Não. Ai não; falta-me a vida;
Sucumbe-me a alma à ventura:
O excesso do gozo é dor.
Dói-me alma, sim; e a tristeza
Vaga, inerte e sem motivo,
No coração me poisou.
Absorto em tua beleza,
Não sei se morro ou se vivo,
Porque a vida me parou.

É que não há ser bastante
Para este gozar sem fim
Que me inunda o coração.
Tremo dele, e delirante
Sinto que se exaure em mim
Ou a vida – ou a razão.

               GARRETT, Almeida. Folhas caídas. Biblioteca Digital.

In:clássicos da literatura Portuguesa. Porto Editora.

http://www.portoeditora.pt

  • Não te Amo

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
E eu n 'alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.

             Fonte: www.revista.agulha.nom.br

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sábado, 11 de abril de 2009

Alguns dos principais autores românticos



Casimiro de Abreu


Poeta brasileiro, Casimiro José Marques de Abreu nasceu em São João da Barra, no estado do Rio, em 4 de janeiro de 1837. Poeta de grande inspiração, seus versos ainda hoje apreciados, lidos com admiração. “As Primaveras”, sua coletânea de poemas, ainda continua agradando ao grande público, e as edições sucedendo. Faleceu a 19 de outubro de 1860, com a idade de 23 anos.








José Martiniano de Alencar


Foi bacharel em direito, jornalista, professor, crítico, teatrólogo e Poeta. Escreveu sobre o pseudônimo de IG, em 1856, as “Cartas sobre a Confederação dos Tamoios”. É considerado o fundador do romance brasileiro, já que no Brasil foi o primeiro a dar ao país um verdadeiro estilo literário. Sua obra está repleta de um nacionalismo vibrante, toda ela escrita numa tentativa de nacionalismo puro, numa temática nova, muito brasileira. Publicou: “O Guarani”, “Iracema”, “Ubirajara”, “As Minas de Prata”, “O Garatuja”, “O Ermitão da Glória”, “Lucíola”, “A Pata da Gazela”, “O Gaúcho”, “O Tronco do Ipê”, “O Sertanejo” e muitos outros. Faleceu em 1877.




Antônio Frederico Castro Alves


Nasceu na Bahia, em 1847. É considerado um dos maiores poetas brasileiros. Em 1863, começou a participar da campanha abolicionista, escrevendo em um jornal acadêmico seus primeiros versos em defesa da abolição da escravatura: “A Canção do Africano”. Castro Alves participou ativamente das inquietações de espírito, da agitação poética e patriota e das lutas liberais que empolgavam sua geração. Em 1868 transferiu-se do Rio de Janeiro para São Paulo, onde continuou sua campanha abolicionista, declamando seus poemas anti-escravista em praça pública. Foi acometido de tuberculose e um acidente ocorrido em uma caçada acabou por consumi-lo. Faleceu em 6 de junho de 1871. Deixou vasta bagagem literária, entre artigos, poesias, etc. “A Cachoeira de Paulo Afonso”, “A Revolução de Minas” ou “Gonzaga”, drama e o livro “Espumas Flutuantes”.



Manuel Antônio Álvares de Azevedo

Poeta brasileiro nascido em São Paulo, a 12 de setembro de 1831. “Lira dos Vinte Anos” é o título de sua obra principal, deixada inédita e publicada após a sua morte ocorrida em dez de março de 1852, no Rio de Janeiro. Escreveu ainda “A Noite na Taverna”, livro de contos, e mais “Conde Lopo”, um Drama, incompleto, aliás. Deixou também traduções e comentários críticos.


Antônio Gonçalves Dias

Poeta brasileiro, nasceu no estado do Maranhão, a 10 de agosto de 1823. Em 1840 foi estudar direito em Portugal, no Colégio de Artes, e foi lá que escreveu sua famosa “Canção do Exílio”. Já formado, embarcou para o Brasil, onde permaneceu muitos anos. Em 1847, lançou “Os Primeiros Cantos” e, 1848, “Os Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão”. Em 1849, foi nomeado professor de latim e História do Brasil no Colégio Pedro II. Em 1851, foram publicados os “Últimos Cantos”. Em 1862, bastante enfermo, embarcou para Europa. Em 1864, voltando ao Brasil, faleceu em um naufrágio. Gonçalves Dias é o patrono da cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras.

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quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Romantismo no Brasil

O Romantismo no Brasil teve como marco fundador a publicação do livro "Suspiros poéticos e saudades", de Gonçalves de Magalhães, em 1836, e durou 45 anos terminando em 1881 com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, por Machado de Assis. O Romantismo foi sucedido pelo Realismo.

Romantismo na França: A revolução francesa, os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade fazem surgir uma nova escola literária.

Período Histórico: 1836 - 1881

No Brasil, o momento histórico em que ocorre o Romantismo tem que ser visto a partir das últimas produções árcades, caracterizadas pela satírica política de Gonzaga e Silva Alvarenga, bem como as idéias de autonomia comuns naquela época. Em 1808, com a chegada da corte portuguesa ao Brasil fugindo de Napoleão Bonaparte, a cidade do Rio de Janeiro passa por um processo de urbanização, tornando-se um campo propício à divulgação das novas influências européias; a então colônia brasileira caminhava no rumo da independência.

Após 1822, cresce no Brasil independente o sentimento de nacionalismo, busca-se o passado histórico, exalta-se a natureza da pátria; na realidade, características já cultivadas na Europa e que se encaixavam perfeitamente à necessidade brasileira de ofuscar profundas crises sociais, financeiras e econômicas. De 1823 a 1831, o Brasil viveu um período conturbado como reflexo do autoritarismo de D. Pedro I: a dissolução da Assembléia Constituinte ; a Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono português contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a abdicação. Segue-se o período regencial e a maioridade prematura de Pedro II. É neste ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo.

Influências

  • Revolução Francesa - A queda do governo de absolutista e os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade promovem o liberalismo filosófico, jurídico e social concedendo maior liberdade de expressão e de construção à classe artística. O Romantismo na França: A revolução francesa, os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade fazem surgir uma nova escola literária.

  • Revolução Industrial - O indivíduo cada vez mais precisa de especialização, e assim surgem as Universidades Brasileiras. O desenvolvimento da indústria acelera o crescimento do capitalismo no mundo provocando a ascensão da burguesia, a nova classe patrocinadora das artes.

  • Independência do Brasil (1822) - O que despertou a consciência nacional e gerou uma necessidade de se fazer uma propaganda positiva do país no mundo inteiro. Isso através da valorização dos elementos naturais brasileiros (Fauna e Flora) em detrimento de toda problemática econômico-social do Brasil Imperial.

  • Corte no Rio de Janeiro (1808) - Começo da imprensa no Brasil, com o surgimento dos jornais surgem os romances em folhetim que são exibidos diariamente em capítulos, sendo considerados os precursores das telenovelas.

Características

  • Subjetivismo - A pessoalidade do autor está em destaque. A poesia e a prosa romântica apresentam uma visão particular da sociedade, de seus costumes e da vida como um todo.
  • Sentimentalismo - Os sentimentos dos personagens entram em foco. O autor passa a usar a literatura como forma de explorar sentimentos comuns à sociedade, como: o amor, a cólera, a paixão etc. O sentimentalismo geralmente implica na exploração da temática amorosa e nos dramas de amor.
  • Nacionalismo, ufanismo - Surge a necessidade de criar uma cultura genuinamente brasileira. Como uma forma de publicidade do Brasil, os autores brasileiros procuravam expressar uma opinião, um gosto, uma cultura e um jeito autênticos, livres de traços europeus.
  • Maior liberdade formal - As produções literárias estavam livres para assumir a forma que quisessem, ou seja, entrava em evidência a expressão em deterimento da estrutura formal (versificação, rima etc).
  • Vocabulário mais brasileiro - Como um meio de criar uma cultura brasileira original os artistas buscavam inspiração nas raízes pré-coloniais utilizando-se de vocábulos indígenas e regionalismos brasileiros para criar uma língua que tivesse a cara do Brasil.
  • Religiosidade - A produção literária romântica, utiliza-se não só da fé católica como um meio de mostrar recato e austeridade, mas utiliza-se também da espiritualidade, expressando uma presença divina no ambiente natural.
  • Mal do Século - Essa geração, também conhecida como Byroniana e Ultra-Romantismo, recebeu a denominação de mal do século pela sua característica de abordar temas obscuros como a morte, amores impossíveis e a escuridão.

Evasão

  • Indianismo - O autor romântico utilizava-se da figura do índio como inspiração para seu trabalho, depositando em sua imagem a confiança num símbolo de patriotismo e brasilidade, adotando o indígena como a figura do herói nacional (bom selvagem).
  • A idealização da realidade - A análise dos fatos, das aparências, dos costumes etc era muito superficial e pessoal, por isso era idealizada, imaginada, assim o sonho e o desejo invadiam o mundo real criando uma descrição romântica e mascarada dos fatos.
  • Escapismo - Os artistas românticos procuravam fugir da opressão capitalista gerada pela revolução burguesa (revolução industrial). Apesar de criticarem a burguesia, os artistas tinham que ser sutis pois os burgueses eram os mecenas de sua literatura e por isso procuravam escapar da realidade através da idealização.
    As formas de escape seriam as seguinte: Fuga no tempo, Fuga no sonho e na imaginação, Fuga na loucura , Fuga no espaço e Fuga na morte.
  • O culto à natureza - Com a busca de um passado indígena e de uma cultura naturalmente brasileira surge o culto ao natural, aos elementos da natureza, tão cultuados pelos índios. Passava-se a observar o ambiente natural como algo divino e puro.
Primeira geração - Indianista ou Nacionalista.
Principais poetas






Gonçalves Dias – Protagonista da 1ª Geração do Romantismo.

A 1ª Geração do Romantismo teve como principal escritor o maranhense Gonçalves Dias. Ele, apesar de não ter introduzido o gênero no Brasil (papel este de Gonçalves de Magalhães), foi o responsável pela consolidação da literatura romântica por aqui.
A exaltação da natureza, a volta ao passado histórico e a idealização do índio como representante da nacionalidade brasileira são temas típicos do Romantismo presentes nas obras de Gonçalves Dias. Assim, sua obra poética pode ser dividida basicamente em lírica (o amor, o sofrimento e a dor do homem romântico - “Se se morre de amor”), medieval (uso do português arcaico - “Sextilhas de frei Antão”) e nacionalista (exaltação da pátria distante - “Canção do Exílio”).
Porém, o traço mais forte da obra romântica de Gonçalves Dias é o Indianismo. Ele é considerado o maior poeta indianista brasileiro e possui em sua obra poemas como “I-Juca Pirama”, onde a figura do índio é heróica, chegando até a ficar “europeizada”.
Utilizador de alta carga dramática e lírica em suas poesias, com métrica, musicalidade e ritmos perfeitos, Gonçalves Dias se considerava uma “síntese do brasileiro”, por ser filho de pai português e mãe mestiça de índios com negros e talvez, por isso, tenha citado tanto as três raças em sua obra, todas de forma distinta.


José de Alencar – O pai dos Romances Indianistas e Urbanos.

Os romances do Romantismo levaram ao leitor da época uma realidade idealizada, com a qual eles se identificaram (escapismo, fuga da realidade, típica característica do Romantismo). Entre eles, o romance indianista foi o que mais fez sucesso entre o grande público, por trazer consigo personagens idealizados, representados por índios. Estes “heróis” eram uma tentativa dos autores de simbolizar uma tradição do Brasil, o que nem sempre acontecia, devido à caracterização artificial do personagem, mais “europeizada” ainda que os indígenas de Gonçalves Dias.
José de Alencar foi o maior autor da prosa romântica no Brasil, principalmente dos romances indianistas e urbanos. Tentando estabelecer uma linguagem do Brasil, Alencar consolidou a modalidade no país e lançou clássicos como “O Guarani” e “Senhora”.
O indianismo de José de Alencar está presente no já citado “O Guarani”, além de outros clássicos como “Iracema” e “Ubirajara”. Alencar defende o estabelecimento de um “consórcio entre os nativos (que fornecem a abundante natureza) e o europeu colonizador (que, em troca, oferece a cultura, a civilização). Dessa forma, surgiu então o brasileiro. Em todo o momento, a natureza da pátria é exaltada, um cenário perfeito para um encontro simbólico entre uma índia e um europeu, por exemplo.
Já em seus romances urbanos, José de Alencar faz críticas à sociedade carioca (em especial) onde cresceu, levantando os aspectos negativos e os costumes burgueses. Nestas obras, há a predominância dos personagens da alta sociedade, com a presença marcante da figura feminina. Os pobres ou escravos são reduzidos ou quase não têm papel relevante nos enredos.
Assim é a premissa básica de histórias de Alencar como “Lucíola”, “Diva” e, claro, “Senhora”. As intrigas de amor, desigualdades econômicas e o final feliz com a vitória do amor (que tudo apaga), marcam essas obras, que se tornaram clássicos da literatura brasileira e colocaram José de Alencar no hall dos maiores romancistas da história do Brasil.

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O Romantismo em Portugal

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"A Revolução Belga", de Wappers.

Durante o século XIX, Portugal participou de grandes transformações políticas européias.
Nesse período as primeiras manifestações pré-românticas aconteceram, mas o Romantismo só teve início no final dos anos 20.
O introdutor do Romantismo em Portugal é Almeida Garrett, essa nova escola dominará até a década de 60.
Conforme se sucederam as gerações dos autores o Romantismo foi evoluindo, isso se deu em três momentos:
* Primeira geração romântica portuguesa
- Sobrevivência de características neoclássicas.
- Nacionalismo
- Historicismo, medievalismo.
Principais autores:
- Almeida Garrett
Obras:
Poesia: Camões (1825); Dona Branca (1826); Lírica de João Mínimo (1829); Flores sem fruto (1845); Folhas caídas (1853).
Prosa: Viagens na minha terra (1843-1845); O Arco de Santana (1845-50).
Teatro: Catão (1822); Mérope (1841); Um Auto de Gil Vicente (1842); O alfageme de Santarém (1842); Frei Luís de Sousa (1844); D. Filipa de Vilhena (1846).
- Alexandre Herculano
Obras:
Polêmicas e ensaios: A voz do profeta (1836); Eu e o clero (1850); A ciência arábico-acadêmica (1851); Estudos sobre o casamento civil (1866); Opúsculos (10 volumes, 1873 – 1908)
Historiografia: História de Portugal (1846-1853); História da origem e estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854-1859).
Poesia: A harpa do crente (1838).
Prosa de ficção: Eurico, o presbítero (1844); O monge de Cister (1848); Lendas e narrativas (1851); O bobo 1878 publ. póst.).
Romantismo
a arte da burguesia
Contexto histórico:
­– Na Europa, definiu-se como escola literária nos últimos anos do século XVIII e predominou durante a 1ª metade do século XIX.
– Os escritores alemães e os ingleses foram os pioneiros da nova tendência, mas coube aos franceses o papel de divulgar o Romantismo (principalmente no Brasil).
– Período da consolidação da burguesia, que passou a dominar a vida política, econômica e social após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial (virada do séc. XVIII para o XIX).
A burguesia conquistou o apoio popular sob a égide do lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade que traduzia o desejo de romper com os valores aristocráticos, de luta por uma sociedade mais harmônica com propostas de um governo democrático, de igualdade e justiça social, de direitos humanos, de liberdade de todo e qualquer indivíduo.
A realidade das sociedades industriais: mecanização da indústria, maior produtividade, crescimento do mercado consumidor, divisão do trabalho, surgimento do operariado. Solidificação do capitalismo. Plano social delineado em duas classes distintas: a classe dominante (burguesia capitalista industrial) e a classe dominada (proletariado).
PROGRESSO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL DA BURGUESIA

Romantismo

baseado na liberdade de criação e expressão, na supremacia do indivíduo, na desobediência aos padrões preestabelecidos (ilustrados e clássicos)
porta-voz da revolução (mundo novo, mais justo)

rebeldia
O Romantismo foi uma escola “da burguesia, pela burguesia e para a burguesia”, de onde seu caráter profundamente ideológico em favor da classe dominante.
Porém, em pouco tempo,
a rebeldia e a euforia cederam ao desapontamento e à frustração diante da pouca repercussão prática dos ideais revolucionários na reformulação das relações sociais.
DESCRENÇA → REAÇÃO
Visão de mundo romântica: reação ao antigo e ao novo!
O espírito romântico opôs:
o sentimento e o coração à razão e à mente,
a arte e a poesia à ciência,
o espiritualismo ao materialismo,
a subjetividade à objetividade,
o cristianismo à filosofia ilustrada,
a noite ao dia,
a expansão e o entusiasmo ao equilíbrio,
o isolamento ao convívio social,
os valores individuais aos universais...
A partir da visão idealizada do indivíduo como ser original e singular, dotado de gênio e liberdade, fez a crítica da alienação do homem mergulhado em uma vida cotidiana e medíocre na estrutura da nova sociedade burguesa.
O Romantismo foi um movimento amplo e apresentou, muitas vezes, características contraditórias.
Um novo público
Com o final do período clássico, desapareceram os mecenas das artes e surgiu um público consumidor amplo e anônimo, que impôs seu padrão de gosto e suas aspirações e que propiciou o surgimento de uma nova linguagem literária que evidenciou:
- a oposição aos modelos da tradição clássica e a liberdade de criação e de expressão;
- a rejeição por uma arte de caráter erudito e nobre a favor de uma arte de caráter mais popular (interesse pelo folclórico, pelo nacional);
- o apelo para os sentimentos e para a imaginação.
O romance (prosa artística, forma mais acessível de manifestação literária) ganhou um espaço que sempre lhe fora negado pela literatura clássica. O teatro ganhou novo impulso, abandonando as formas clássicas e se inspirando em temas nacionais, que propiciou o surgimento do drama.504px-Ippar-palacio-pena-aerea

Palácio da Pena, em Sintra.

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