Relógio

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Realismo e Naturalismo

    Capitalismo e Pobreza:

    Um Novo Cenário Social

    A revolução industrial está diretamente relacionada ao nascimento da estética realista. Inicialmente restrita á Inglaterra, ela desencadeou mudanças profundas no modo de produção, o que reordenou a economia mundial no século XIX.

    A superação do mercantilismo pela dinâmica capitalista __ Consequência da revolução Industrial __ Fez com que a consolidação do poder burguês desse á sociedade uma nova faceta, que o realismo, como estética literária, busca analisar, detectando suas causas e denunciando suas consequências.

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A multiplicação das máquinas e o crescimento do comércio contribuíram para a adoção de uma perspectiva extremamente otimista que associava a Revolução insdustrial à possibilidades de importantes reformas sociais.

A industrialização, porém, acarretou um efeito social bastante previsível: acentuou a distinção entre a classe média (burguesia) e a classe trabalhadora (proletariado). As pessoas engajadas no comércio e uqe participavam ativamente do sistema capitalista foram beneficiadas pelos novos meios de produção. Os trabalhadores, agora assalariados, encontravam-se no outro lado do aspecto social.

A pobreza tornou-se, desse modo, um problema associado à industrialização, porque o novo sistema de produção fez crescer assustadoramente os sacrificios a que eram submetidos os trabalhadores. O acúmulo de pessoas nos grandes centros urbanos agravou os problemas já existentes.

Sem emprego suficiente, os camponeses, expulsos do campo pelas máquinas, vagavam pelos principais centros urbanos sem as mínimas condições de vida. As epidemias aumentaram como consequência natural da falta de condições básicas de higiene. A mendicância e a prostituição tornam-se subprodutos indesejáveis e degradantes da sociedade capitalista.

A Sociedade no centro da obra literária

O mundo das máquinas, das fábricas, dos transportes, das novas teorias sociais, tornava inviável a visão de mundo romântica, que fazia do indivíduo e de seus dramas sentimentais o centro de todas as coisas.

  • A sociedade estava mudando, os artistas, como homens de seu tempo, passaram a adotar a nova visão do mundo que privilejiava a objetividade, contrária ao subjetivismo romântico; que via na razão a melhor forma de percepção da realidade, abandonando a desvalorização desmedida da emoção; que focalizava a sociedade como centro de seus interesses, em lugar de uma perspctiva excessivamente individualista.

Madame Bovary e a Crítica ao Romantismo

O primeiro romance realista, Madame Bovary, foi publicado na França, em 1857, e seu autor, Gustave Flaubert, chegou a ser processado, acusado de imoralidade, pela publicação dessa obra. Embora Flaubert tenha sido absolvido da acusação, demorou muito para que o público leitor aceitasse a nova perspectiva literária presente em textos realistas.

No romance, conhecemos a história de Emma Bovary, mulher educada tendo como prncípios básicos os ideais burgueses românticos. Enfadada com o próprio casamento, Emma torna-se vítima fácil para o primeiro conquistador que lhe cruza o caminho. Seu destino é a morte.

Essa é uma morte simbólica, porque, com ela, Flaubert parece indicar a morte do próprio Romantismo, ao mesmo tempo que critica, de modo impiedoso, a hipocrisia da sociedade burguesa. Em sua obra, toda a intriga melodramática, aventurosa e sensacional é substituída pelas descrições de uma vida cotidiana absolutamente monótona, uniforme e, não raro, vulgar.

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As fábricas começam a transformar o cenário europeu. Onde antes havia campos e árvores, agora há chaminés e fumaça (campo escuro, de Constantin Meunier, C. 1890).

Nos trechos Transcritos a seguir conhecemos um pouco melhor como a mentalidade romântica determinou as expectativas de Emma Bovary e, de certa forma, condenou-a à infelicidade e à morte.

"Antes de casar, ela julgara ter amor; mas como a feliciadade que deveria ter resultado daquele amor não viera, ela deveria ter-se enganado, pensava. E Emma procurava saber o que se entendia exatamente, na vida, pelas palavras felicidade, paixão, embriaguez, que lhe haviam parecido tão belas nos livros.

Ela lera Paul Et Virginie e sonhara com a casinha de bambu, com o negro Domingo, o cão fiel, mas, sobretudo, com a amizadade doce de algum bom irmãozinho que vai procurar frutos vermelhos nas grandes árvores mais altas do que campanários ou que corre descalço na areia trazendo um ninho de pássaros.

Quando fez treze anos, seu pai levou-a pessoalmente à cidade, para interná-la no convento. [...]

Havia no convento uma solteirona que vinha oito dias por mês para trabalhar na rouparia. [...] Ela sabia de cor canções galantes do século passado, que cantava a meia vozenquanto manejava a agulha. Contava histórias, trazia novidades, fazia compras na cidade e emprestava às alunas maiores, às escondidas, algum romance que trazia sempre nos bolsos do avental e do qual a boa senhorita devorava, ela mesma, longos capítulos nos intervalos do seu trabalho. Eram somente amores, amantes, senhoras perseguidas que desmaiavam em pavilhões solitários, postilhões assassinados em todas as pousadas, cavalos que eram mortos em todas as páginas, florestas sombrias, tumultos do coração, promesas, soluços, lágrimas e beijos, barcos ao luar, rouxinóis nos arvoredos, cavalheiros corajosos como leões, doces como cordeiros, virtuosos como ninguém pode ser, sempre bem vistidos e que choram como urnas. Durante seis neses, aos quinze anos, Emma megulhou, pois, as mãos naquele pó dos velhos gabinetes de leitura. Com Walter Scott, mais tarde, apaixonou-se por coisas históricas, sonhou com arcas, salas da guarda, e menestréis. Teria desejado viver com algum velho solar como aquelas castelãs de longos corpetes que, sob o trifólio das ogivas, passavam seus dias com o cotovelo apoiado na pedra e o queixo na mão a olhar um cavalheiro de pluma branca, vindo do fundo dos campos galopando um cavalo negro. [...]

Nas aulas de música, nas romanças que cantava, havia apenas anjinhos de assas de ouro, madonas, lagunas, gondoleiros, pacíficas composições que lhe deixavam entrever, através da tolice do estilo e das imprudências das notas agudas, a atraente fantasmagoria das realidades sentimentais. [...]

E o abajur do candeeiro, dependurado no muro acima da cabeça de Emma, iluminava todas as cenas do mundo que passavam diante dela, umas após as outras, no silêncio do dormitório e ao barulho longínquo de algum fiacre atrasado que ainda rodava nos bulevares."

FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Tradução de Fúlvia M. L. Moretto.

São Paulo: Nova Alexandria, 1993

Mais adiante, quando conhecermos uma das mais famosas personagens de Eça de Queirós __ Luísa, do romance O Primo Basílio, reconheceremos a influência evidente que a leitura de Madame Bovary exerceu sobre o escritor português.

Na perspectiva realista, o efeito moral da arte é o seu objetivo mais importante, o que dá ao artista um papel educativo insubstituível. "Arte, a única coisa verdadeira e boa vida", escreve Flaubert em sua juventude. No fim da vida, passa a acreditar que "o homem não é nada, a obra é tudo".

Depois da publicação de Madame Bovary, o cenário literário europeu foi definitivamente marcado pela estética realista.

Um novo olhar para o mundo

Como manifestação artística de uma sociedade em transformação, o Realismo tem características que refletem de modo inconfundível o momento em que surge.

As descobertas científicas levavam a uma valorização da experiência concreta, racional, controlada, de modo que a fantasia e o imaginário, que tanto caracterizaram o Romantismo, São deixados de lado. De forma semelhante aos românticos, porém, os realistas continuarão a expressar insatisfação com a sociedade em que vivem e a criticar severamente a ganância e a hipocrisia burguesa.

O Realismo procura representar o mundo exterior de modo fidedigno, voltado para a análise das condições políticas, econômicas e sociais que influenciam os comportamentos individuais e determinam a organização social.

O autor realista está interessado na sociedade, vista de modo objetivo, sem excluir as classes menos favorecidas e os fatos cotidianos.

A estética realista está associada às seguintes características:

  • Captação e análise da realidade, com precisão objetiva.
  • Retrato fiel da natureza.
  • Análise corajosa, porque exata, da vida, do mundo e dos seus vícios.
  • Temas cosmopolitas de incidência coletiva: educação, adultério, opressão, agiotagem, corrupção, frivolidade, política.
  • Narração e descrição articuladas, de modo que a ação representada se intercale com a caracterização de espaços sociais.
  • Interesse no estudo das motivações psicológicas para o comportamento das personagens.
  • Personagens construídas de modo coerente com o mundo profissional, cultural, econômico, social e político em que se inserem.
  • Presença de personagens-tipo, que permitem a reflexão crítica sobre o ser humano e seus problemas.

3 comentários:

Macaco Pipi disse...

ai cara...na boa...

liedbertha.blogspot.com disse...

Espero que você verdadeiramente esteja aprendendo e entendendo o que nos acontece agora! Viu como a industrialização inaugurou o mal para o meio ambiente? O que fazer com as melhorias produzidas pelos homens sem prejudicar a natureza? E a diferença entre Romantismo e Realismo? Está conseguindo perceber? Se você tiver oportunidade leia Madame Bovary, você entenderá bem esta transição do Romantismo para o Realismo. Parabéns! Seu trabalho está excelente! Prof Mariza Araujo

Anônimo disse...

tá maneiro.. parabéns cara!

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